Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...
Vive dentro de mim
a lavadeirado Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa, pedra de anil.
Sua coroa verde de São-caetano.
Vive dentro de mim a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda, desabusada,
sem preconceitos,de casca-grossa,
de chinelinha, e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira. -Enxerto de terra,
Trabalhadeira. Madrugadeira.
Analfabeta. De pé no chão.
Bem parideira.Bem criadeira.
Seus doze filhos, Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida. Minha irmãzinha...
tão desprezada, tão murmurada...
Fingindo ser alegre seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:Na minha vida - a vida mera das obscuras!
[Cora Coralina]

Cora Carolina era o pseudônio usado por uma linda moça
que se chamava Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas.
Também chamada de Aninha da Ponte da Lapa.
nasceu em Goiás no ano de 1889.
nasceu em Goiás no ano de 1889.
tinha apenas a instrução primária
e era doceira de profissão.
Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade.
Ficou famosa principalmente
quando suas obras chegaram
até as mãos de Carlos Drummond de Andrade,
quando ela tinha quase 90 anos de idade.
Um comentário:
menina, parece q foi cv quem escreveu esse poema! é a tua cara!
lindo lindo!!
xero meu Oiãooooo
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